A atracção do comunismo

Não é à excelência da doutrina, nem do sistema, nem das técnicas de penetração que se deve o avanço do comunismo. Ele deve-se, fundamentalmente, ao facto de representar para os homens do Ocidente a libertação de um individualismo e de uma liberdade que transcendem a sua capacidade de auto-domínio e de utilização. Na verdade, um individualismo e uma liberdade sem transcendência e sem valores, numa palavra, sem uma ordem que transcenda a Sociedade, deixa o indivíduo entregue a si mesmo, à sua inteligência, às suas paixões e aos seus caprichos. Se uma grande parte se acomoda à ordem representada apenas pelo sistema das leis estatais, e como tal frágeis, uma parte cada vez maior ultrapassa-a, por verificar que não é mais do que uma convenção nem sempre justa, séria e aceitável entre homens e por isso contesta-a, ataca-a, torna-a inviável pela desordem que estabelece nas inteligências, nas fábricas, e nas ruas. Daí que nem a evidência dos números a provar a diferença abismal de níveis de vida dentro de um e outro sistema, nem a frieza dos argumentos racionais a atestarem o fundamento não científico do marxismo, nem a clareza dos factos a desmentir as previsões do marxismo na evolução económica e social, nem a certeza das suas violências ditatoriais a contrastar com a liberdade do Ocidente, de nada sirvam para deter o seu avanço e até sirvam, pelo contrário, segundo pensamos, para o ajudar.

Os dirigentes do Ocidente ainda se não aperceberam, na cegueira dos seus mitos, que as reacções das massas e, especialmente da juventude, neste lado do mundo, só são contraditórias na aparência.

Estas massas já se aperceberam, embora confusamente, que a felicidade não está no espaço por eles definido – progresso material indefinido – mas numa ordem transcendente que se proponha restabelecer a paz e a justiça entre os homens e as nações. São os elementos místicos do comunismo, não a sua doutrina ou as suas realizações, que arrastam os desiludidos para as suas realizações, que arrastam os desiludidos para as suas fileiras. Os desiludidos de uma concepção do mundo e da vida que, por se ter deixado esvaziar de todos os seus valores espirituais, acabou por se traduzir em contradições permanentes e gritantes. A ordem que devia corresponder a esta concepção acabou por se reduzir ao domínio absoluto, tanto a nível individual como colectivo, da lei do mais forte. Está aqui a raiz de todos os males e desvarios do Ocidente, que só se poderá salvar se a substituir a tempo pela lei cristã da cooperação.

- Fernando Pacheco de Amorim, Portugal Traído, Madrid, 1975, pp. 142-144.

posted by Nacionalista @ 2:57 da manhã,

2 Comments:

At 5:42 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Mas porque razão não nos diz o vanguardista o que pensa do presente conflito israelo-árabe? Teme comprometer-se com uma tomada de posição e assim desagradar a alguém?

Aguardemos...

 
At 7:57 da tarde, Blogger Nacionalista said...

Sinto-me lisonjeado. Pelos vistos a minha opinião é importante e relevante! Se não escrevo é porque não tenho uma opinião definitiva sobre a questão. Se fosse palestino estaria do lado do Partido de Deus a 100% e se fosse israelita estaria do lado do Tsahal também a 100%. Como sou português, estou-me a borrifar. Que se matem uns aos outros, mas que nos deixem em paz!

 

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