O “Contrato Social”
sexta-feira, abril 21, 2006
Uma sociedade é um grupo de seres diferentes organizados para fazer frente a necessidades comuns.
Em qualquer espécie sexualmente reproduzida a igualdade dos indivíduos constitui uma impossibilidade natural. Portanto a desigualdade deve ser considerada como a primeira lei dos agrupamentos sociais, tanto na sociedade humana como em qualquer outra. A igualdade de oportunidades deve ser considerada entre as espécies vertebradas como a segunda lei. As sociedades de insectos podem incluir geneticamente determinadas castas, mas isso não pode ocorrer entre as espécies vertebradas. Cada ser vertebrado, exceptuando somente algumas espécies raras, goza de igualdade de oportunidades para desenvolver as suas potencialidades.
Enquanto que uma sociedade de seres iguais – quer se trate de babuínos, gralhas, leões ou homens – representa uma impossibilidade natural, a sociedade justa constitui uma meta realizável. Dado que o animal, ao contrário do ser humano, raras vezes se vê tentado a perseguir o impossível, em poucas ocasiões se nega ao realizável na sua sociedade.
A sociedade justa, segundo a vejo, é aquela em que existe ordem suficiente para a protecção dos seus membros, por diversos que sejam os seus dotes, e desordem suficiente para que cada indivíduo tenha oportunidade de desenvolver o seu potencial genético, qualquer que ele seja. Este equilíbrio entre ordem e desordem, cujo rigor varia de acordo com as condições ambientais, é o que eu considero como o contrato social, equilíbrio que, no meu entender, por se tratar de um imperativo biológico, ficará bem patente à medida que investiguemos entre as espécies.
A violação do imperativo biológico trouxe o fracasso do homem social. Embora sejamos vertebrados, temos ignorado, desde os primeiros tempos da civilização, a lei da igualdade de oportunidades. Embora sejamos seres que se reproduzem sexualmente, pretendemos hoje que não existe a lei da desigualdade, e, de ilustrados que estamos, enquanto perseguimos o impossível, impossibilitamos o realizável.
Triste será a manhã em que a diversidade dos homens se tenha desvanecido como a última estrela com o brilho da aurora: se temos de despertar numa manhã como esta, então peço a Deus que leve a minha vida durante o sono.
E apesar de tudo, sabendo-o ou não, esta é a manhã porque nos esforçamos: você e eu, capitalistas, socialistas, amarelos, brancos, morenos. É a manhã pela qual os professores apelam em conjunto com os polícias, aquela que tem sido exaltada pelas filosofias dos últimos dois séculos; a manhã da igualdade, do reflexo condicionado e colectivamente induzido, a manhã da realidade igualitária, de um mundo feliz, da ordem sem discussão, das sombras sem distinção, da resposta uniforme ao estímulo uniforme, a manhã da tintilante campainha da ovelha dirigindo-se à pastagem. Prefiro não despertar nela.
É a manhã que exaltamos e pela qual rogamos nas nossas organizações industriais, nas nossas granjas colectivas, nos nossos concílios eclesiásticos, nos nossos procedimentos governamentais, nas nossas relações entre estados, nas nossas correctas súplicas de que todos sejamos iguais algum dia. É a manhã contra a qual a juventude, sabendo-o ou não, se levanta em protesto. E é a manhã que, louvados sejam os céus da nossa origem, não amanhecerá nunca. (…)
Da mesma forma que a vida é maior que o homem, assim também é mais sábia do que nós. Da mesma maneira que a evolução nos tornou possíveis, assim também a evolução estabelecerá um juízo final. Da mesma forma que a selecção natural nos qualificou e acolheu, assim a selecção natural nos desqualificaria e rejeitaria se permitíssemos que nos vencesse essa tentação do impossível, do “hubris”. Mas essa desolada manhã cinzenta não a veremos nunca, porque umas leis mais fortes que você e eu, com imparcial e imperecível harmonia, ante um tribunal nocturno e no decurso das trevas do homem, nos condenarão à extinção como espécie. Ou, o que é mais provável, nos obrigarão a guardar a observância das leis da carne.
- Robert Ardrey (pilhado ao Manuel Azinhal)
posted by Nacionalista @ 6:59 da tarde,