Licença para matar

Um artigo dePierre Vial.
«Emoção após a morte de um jovem (…) abatido pela polícia». «Erro policial reaviva tensões raciais». O presidente da câmara considerou o erro «inaceitável» e «prometeu um inquérito imparcial». Eis o que escreveu o Le Monde de 29 de Novembro. Um leitor distraído poderia pensar que estas informações dizem respeito à morte de um jovem adepto do Paris Saint Germain (PSG), morto por um polícia à saída do jogo PSG - Hapoël Tel-Aviv, no dia 23 de Novembro. Não é o caso. Estas citações do Le Monde referem-se, de facto, à morte de um afro-americano, abatido em Nova Iorque por cinco polícias no dia 25 de Novembro, à saída de uma discoteca.
Respiremos de alívio. De facto, não passa pela cabeça de ninguém colocar em causa um bravo polícia francês, de origem antilhana, que merece na realidade ser felicitado por ter abatido, sem aviso, um «racista». Foi precisamente isto que declarou o Procurador de Paris, Jean-Claude Marín, no dia seguinte aos «dramáticos incidentes» – como escreveu pudicamente o Le Monde – sublinhando que o polícia «demonstrou um sangue frio notável». Ele precisa: «O polícia, para se defender, accionou voluntariamente a sua arma face a um estado de perigo imediato e importante». Patrick Mignon, «investigador» do Instituto Nacional do Desporto e da Educação Física, especialista em «claquismo» (parece que é um emprego…), aporta a sua caução: o polícia que matou o jovem é «um elemento corajoso» (Le Monde, 26 de Novembro). Deveríamos condecorá-lo, não? Já Richard Prasquier, presidente do Comité Francês de Yad Vashem* e membro do comité executivo do CRIF*, assegura: «Saúdo-o respeitosamente» (Le Monde, 30 de Novembro).
Este caso, evidentemente, não terá consequências prejudiciais para o polícia assassino. É normal. O jovem abatido chamava-se Julien Quémener. Era gaulês, portanto. Um «pequeno branco», como dizem os intelectuais burgueses. Sem interesse. E que, como se diz na gíria, estava mesmo a pedi-las – é para aprender a ser adepto do PSG. Bem feito.
Mas imaginemos por um momento quais seriam as consequências da morte de um antilhano abatido por um polícia gaulês… Mobilização geral dos subúrbios, dos intelectuais indignados, dos professores de moral do Le Monde e de outros catecismos do politicamente correcto (La Croix, Le Figaro e TODOS os outros diários), do governo, de Chirac, de todos os partidos políticos do Sistema… Dois pesos, duas medidas, portanto? Certos gauleses, que normalmente se orgulham «de não fazer política», vão talvez abrir os olhos. Podemos sempre sonhar…
Em qualquer caso a lição certamente não será esquecida por alguns: os bófias que queiram disparar contra os «racistas» poderão dedicar-se a essa tarefa alegremente. Nem o seu ministro, nem os seus sindicatos, nem as autoridades judiciárias lhes guardarão rancor. Pois que é por uma boa causa. Deveria até valer-lhes o reconhecimento das ligas de virtude «anti-racistas» e, em resultado, ser bom para a sua progressão.
E porque se incomodarão eles, já que o exemplo vem muito de cima, tanto no plano nacional como internacional: a licença para matar não é, hoje em dia, a razão de ser da OTAN? Esta organização, nascida da utopia que Roosevelt pretendia incarnar, permitiu aos EUA, após 1945, vassalizar suavemente os europeus sob o pretexto de os proteger do Satã soviético. Este já não existindo mais – embora alguns ainda tentem satanizar a Rússia de Putin – foi fácil, para esta marioneta americana que é a OTAN, decretar a existência de novos Satãs. Satânico, por exemplo, é o povo sérvio, que ousou fazer frente aos diktats de Washington. É portanto permitido matar o sérvio através de bombardeamentos maciços sobre Belgrado (a França de Chirac assim se desonrou). Satânicos são Saddam Hussein e as suas armas de destruição maciça (mentira desavergonhada, toda a gente o sabe hoje), e por conseguinte é permitido matar os iraquianos, às centenas de milhar – nunca saberemos o número exacto – no momento da agressão americana. Atolados no Afeganistão como no Iraque, os americanos intimam hoje os europeus a fornecer-lhes os soldados de eles precisam como carne para canhão para substituir os seus GI’s impotentes. Aos países que pretendem entrar na União Europeia, a integração na OTAN – ou seja, a submissão aos EUA – é apresentada como o passaporte indispensável. Prova, como se o fosse necessário, de que a caricatura da Europa que se chama União Europeia está prostrada face a Washington.
A lógica da licença para matar é tão velha como a invenção de Satã e do maniqueísmo que daí decorre: contra o Mal, necessariamente absoluto, tudo é permitido aos agentes do Bem, necessariamente também absoluto. Foi, precisamente, em nome deste princípio que a Inquisição atirou à fogueira, durante séculos, milhares de infelizes denunciados como «bruxas».
E entretanto que faz o bom papa Bento XVI, chefe de uma Igreja que criou a Inquisição? Declara-se favorável à entrada da Turquia na União Europeia, «sob o fundamento de valores comuns» (sic). E preconiza, para encontrar um terreno de acordo com o Islão, «reconhecer o que temos em comum» (resic). Os espíritos dos cristãos massacrados ao longo dos séculos pela maior glória de Alá devem apreciar.
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* Organizações judaicas.

posted by Nacionalista @ 12:57 da manhã,

1 Comments:

At 1:34 da tarde, Blogger Vítor Ramalho said...

O meu amigo com este excelente texto põe e bem a mão na ferida.

 

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