Virtudes da Cooperação
quarta-feira, junho 07, 2006
A COOPERAÇÃO SIMPLIFICA A DISTRIBUIÇÃO E DEFENDE O CONSUMIDOR
Diz um ditado antigo: «Lá, como cá, Mafaldas há» (ou más fadas há?). Assim é. Seja em França ou seja na Itália, na Bélgica ou na Grécia, na América ou no Japão, em Espanha ou em Portugal… por toda a parte se nota uma complexidade de vida, uma multiplicação de serviços, uma repetição de operações, uma sobrecarga de dificuldades de tal natureza, que muita gente pergunta se não seria possível reduzir tudo isto a um mínimo que trouxesse ao homem mais comodidade e menor despesa, mais sossego de espírito e menor exploração em suas relações forçadas com os outros homens.
Podemos responder a essas pessoas que há na verdade uma fórmula de organização económica e moral, simples, que pode evitar todo esse cortejo de atritos, perturbações, explorações, injustiças e arrelias que se verificam diariamente em volta do problema da distribuição ou venda ao consumidor dos géneros indispensáveis à vida. Sobretudo destes, que dos outros, os casos são em menor número.
Essa fórmula é a cooperativa de consumo.
Para demonstrar a afirmação vamos dar a palavra ao Dr. Charles Gide, como grande economista e cooperativista que foi, autor de uma História das Doutrinas Económicas e de outras obras que o impuseram à admiração de coevos e vindouros. Também ele focou na sua propaganda cooperativa este aspecto da complexidade da organização económica liberal então reinante e ainda hoje profunda, e ninguém o fez melhor do que ele.
Disse o Dr. Charles Gide numa das suas palestras: «A nossa organização social é uma máquina extraordinariamente complicada e, sem dúvida, digna de admiração. Faz lembrar um destes relógios que marcam não somente o dia e a hora, mas também o mês, as fases da Lua, os dias feriados e os anos bissextos. O certo, porém, é que aqueles relógios custam muito caro e avariam-se facilmente. Seria preferível um relógio mais simples que satisfizesse as nossas necessidades quotidianas.
Acontece o mesmo com o mecanismo social: custa muito caro e desarranja-se constantemente. Por conseguinte, seria muito útil simplificá-lo. Difícil? Impossível? Não! É fácil demonstrar que é perfeitamente possível esta simplificação.
Vêde que é que se passa com o alimento que ingerimos ao almoço ou com uma bebida com que o fazemos acompanhar. Seja por exemplo, o vinho. Por quantas mãos passa uma garrafa dele até chegar à mesa do consumidor?
Vejamos:
O proprietário que o faz de suas uvas e o engarrafa vende-o, por intermédio de um corretor, a um comerciante de vinhos duma cidade, o qual o revende, por intermédio de um outro, a um negociante por grosso que, por sua vez o transacciona com um outro mais modesto, ao retalhista, a quem, finalmente, o consumidor o comprou. Quanto pagou este, pela garrafa? Há vários preços, como há várias marcas. Isto é sabido. Mas suponhamos que pagou 5$00, ou mesmo 12, ou ainda 18.
O seu dinheiro vai percorrer agora o caminho que percorreu o vinho mas em sentido inverso: passa ao retalhista ou merceeiro, deste ao terceiro negociante, ao segundo seguidamente, ao primeiro, ao corretor, ao proprietário que o produziu… Simplesmente este não recebe os 18$00, nem os 12, nem os 5. Num vinho desta última categoria ele receberá, no máximo 2$00. Para quem foi o resto? O resto ficou pelo caminho, nas mãos dos que não trataram da vinha, nem apanharam nem pisaram a uva, nem envasilharam o mosto, nem encheram as garrafas. Ficou espalhado por essa rede de intermediários que elevaram para 5$00 ou mais um produto que era só de dois.
Já vistes como na aldeia, onde não há bombas, se apaga um incêndio? É com baldes de água. Forma-se uma cadeia de pessoas que vão recebendo da primeira, da que está junto do poço, os baldes cheios. A primeira passa à segunda, a segunda à terceira, a terceira à quarta… Mas com o pegar e largar a água vai se entornando e, quando o balde chega ao ponto de ser despejado sobre as chamas, não conterá mais que um quarto da água primitiva. O resto perdeu-se no caminho. O mecanismo comercial é tão atrasado como a cadeia no incêndio. Desperdiça os três quartos do valor das coisas e arruína ao mesmo tempo o consumidor, obrigando-o a comprar demasiado caro, e o produtor, forçando-o a vender muito barato — sem falar nos intermediários que, por serem muito numerosos, são levados muitas vezes à falência».
«A associação cooperativa suprime todas estas engrenagens inúteis; pelas vias mais directas, ela leva a riqueza das mãos do produtor, às do consumidor e o dinheiro deste às do primeiro: seja porque sob a forma de cooperativa de consumo os consumidores compram directamente o seu vinho aos proprietários — seja porque sob a forma de sindicatos agrícolas (ou cooperativas de produção agrícola) os proprietários vendem directamente ao público o seu vinho.
E o mesmo pode dizer-se dos outros produtos.
Os órgãos de transmissão devem ser reduzidos ao mínimo, porque, pela fricção ou atrito eles absorvem inutilmente a força viva. Isto é um princípio de mecânica; e é igualmente um princípio de economia política».
É nesta supressão do intermediário que está a simplificação e a virtude — uma das virtudes — da cooperação. É uma virtude que visa à defesa do consumidor e, portanto, à defesa de toda a gente.
Não seria por isso, necessário propagá-la, espalhá-la por toda a parte como um bem público? Nós cremos que sim. Todavia, poucos de nós o fazemos. Estamos na aldeia e não vemos as casas. Haverá miopia mais digna de comiseração?
Diz um ditado antigo: «Lá, como cá, Mafaldas há» (ou más fadas há?). Assim é. Seja em França ou seja na Itália, na Bélgica ou na Grécia, na América ou no Japão, em Espanha ou em Portugal… por toda a parte se nota uma complexidade de vida, uma multiplicação de serviços, uma repetição de operações, uma sobrecarga de dificuldades de tal natureza, que muita gente pergunta se não seria possível reduzir tudo isto a um mínimo que trouxesse ao homem mais comodidade e menor despesa, mais sossego de espírito e menor exploração em suas relações forçadas com os outros homens.
Podemos responder a essas pessoas que há na verdade uma fórmula de organização económica e moral, simples, que pode evitar todo esse cortejo de atritos, perturbações, explorações, injustiças e arrelias que se verificam diariamente em volta do problema da distribuição ou venda ao consumidor dos géneros indispensáveis à vida. Sobretudo destes, que dos outros, os casos são em menor número.
Essa fórmula é a cooperativa de consumo.
Para demonstrar a afirmação vamos dar a palavra ao Dr. Charles Gide, como grande economista e cooperativista que foi, autor de uma História das Doutrinas Económicas e de outras obras que o impuseram à admiração de coevos e vindouros. Também ele focou na sua propaganda cooperativa este aspecto da complexidade da organização económica liberal então reinante e ainda hoje profunda, e ninguém o fez melhor do que ele.
Disse o Dr. Charles Gide numa das suas palestras: «A nossa organização social é uma máquina extraordinariamente complicada e, sem dúvida, digna de admiração. Faz lembrar um destes relógios que marcam não somente o dia e a hora, mas também o mês, as fases da Lua, os dias feriados e os anos bissextos. O certo, porém, é que aqueles relógios custam muito caro e avariam-se facilmente. Seria preferível um relógio mais simples que satisfizesse as nossas necessidades quotidianas.
Acontece o mesmo com o mecanismo social: custa muito caro e desarranja-se constantemente. Por conseguinte, seria muito útil simplificá-lo. Difícil? Impossível? Não! É fácil demonstrar que é perfeitamente possível esta simplificação.
Vêde que é que se passa com o alimento que ingerimos ao almoço ou com uma bebida com que o fazemos acompanhar. Seja por exemplo, o vinho. Por quantas mãos passa uma garrafa dele até chegar à mesa do consumidor?
Vejamos:
O proprietário que o faz de suas uvas e o engarrafa vende-o, por intermédio de um corretor, a um comerciante de vinhos duma cidade, o qual o revende, por intermédio de um outro, a um negociante por grosso que, por sua vez o transacciona com um outro mais modesto, ao retalhista, a quem, finalmente, o consumidor o comprou. Quanto pagou este, pela garrafa? Há vários preços, como há várias marcas. Isto é sabido. Mas suponhamos que pagou 5$00, ou mesmo 12, ou ainda 18.
O seu dinheiro vai percorrer agora o caminho que percorreu o vinho mas em sentido inverso: passa ao retalhista ou merceeiro, deste ao terceiro negociante, ao segundo seguidamente, ao primeiro, ao corretor, ao proprietário que o produziu… Simplesmente este não recebe os 18$00, nem os 12, nem os 5. Num vinho desta última categoria ele receberá, no máximo 2$00. Para quem foi o resto? O resto ficou pelo caminho, nas mãos dos que não trataram da vinha, nem apanharam nem pisaram a uva, nem envasilharam o mosto, nem encheram as garrafas. Ficou espalhado por essa rede de intermediários que elevaram para 5$00 ou mais um produto que era só de dois.
Já vistes como na aldeia, onde não há bombas, se apaga um incêndio? É com baldes de água. Forma-se uma cadeia de pessoas que vão recebendo da primeira, da que está junto do poço, os baldes cheios. A primeira passa à segunda, a segunda à terceira, a terceira à quarta… Mas com o pegar e largar a água vai se entornando e, quando o balde chega ao ponto de ser despejado sobre as chamas, não conterá mais que um quarto da água primitiva. O resto perdeu-se no caminho. O mecanismo comercial é tão atrasado como a cadeia no incêndio. Desperdiça os três quartos do valor das coisas e arruína ao mesmo tempo o consumidor, obrigando-o a comprar demasiado caro, e o produtor, forçando-o a vender muito barato — sem falar nos intermediários que, por serem muito numerosos, são levados muitas vezes à falência».
«A associação cooperativa suprime todas estas engrenagens inúteis; pelas vias mais directas, ela leva a riqueza das mãos do produtor, às do consumidor e o dinheiro deste às do primeiro: seja porque sob a forma de cooperativa de consumo os consumidores compram directamente o seu vinho aos proprietários — seja porque sob a forma de sindicatos agrícolas (ou cooperativas de produção agrícola) os proprietários vendem directamente ao público o seu vinho.
E o mesmo pode dizer-se dos outros produtos.
Os órgãos de transmissão devem ser reduzidos ao mínimo, porque, pela fricção ou atrito eles absorvem inutilmente a força viva. Isto é um princípio de mecânica; e é igualmente um princípio de economia política».
É nesta supressão do intermediário que está a simplificação e a virtude — uma das virtudes — da cooperação. É uma virtude que visa à defesa do consumidor e, portanto, à defesa de toda a gente.
Não seria por isso, necessário propagá-la, espalhá-la por toda a parte como um bem público? Nós cremos que sim. Todavia, poucos de nós o fazemos. Estamos na aldeia e não vemos as casas. Haverá miopia mais digna de comiseração?
- J. Dias Agudo, "Virtudes da Cooperação"
posted by Nacionalista @ 12:52 da manhã,