Dissonâncias
quinta-feira, outubro 26, 2006
Sobre a questão do aborto, tenho notado uma certa dissonância entre o “discurso oficial” (o dos políticos e dos artigos de opinião) e o discurso do “militante de base”.
O “discurso oficial” tende a adoptar uma linha deste género: “ninguém quer abortar e ninguém o faz de ânimo leve, apenas queremos que mulheres colocadas perante situações dramáticas possam recorrer a essa alternativa sem correrem o risco de ir para a prisão”. Já o discurso do “militante de base” é mais assim: “cada um faz o que quer com o seu corpo e ninguém tem nada a ver com isso! O feto é só um feto, não é um ser humano (e mesmo que fosse…)! Por essa lógica a masturbação também devia ser proibida…”
Nota-se claramente que o “militante de base” defende o aborto simplesmente porque lhe dá jeito, porque lhe é conveniente. A namorada engravidou? Não há problema, faz-se um aborto. A gravidez vai estragar a “linha”? Não há problema, faz-se um aborto. A gravidez impede as idas à discoteca? Não há problema, faz-se um aborto. Esqueceu-se do preservativo (ou outro método contraceptivo)? Não há problema, faz-se um aborto. A maternidade dá muito trabalho, acaba com a “vida social”, perturba os estudos ou a ascensão na carreira? Não há problema, faz-se um aborto.
O “discurso oficial” limita-se a tentar esconder esta frivolidade, talvez porque saiba que se a questão fosse assim apresentada – tal como realmente é – muito mais gente se sentiria repugnada. Temos então a seguinte situação: as tais mulheres em situação dramática não passam de arma de arremesso utilizada desavergonhadamente pelos pró-aborto quando estes, na realidade, se estão bem a borrifar para elas e apenas as utilizam como desculpa legitimadora da sua irresponsabilidade e frivolidade.
E depois de se legalizar o aborto? As frívolas (e os frívolos) poderão fazer os seus abortos sem incómodos e sem juízos morais incomodativos (afinal de contas, se a lei permite é porque “não faz mal”) e as tais mulheres confrontadas com situações dramáticas, continuarão confrontadas com as tais situações dramáticas, e, quando tiverem dúvidas ou procurarem ajuda, saberão que toda a sociedade acha que fazer um aborto é normal e que, por isso mesmo, é isso que se espera delas.
posted by Nacionalista @ 8:40 da tarde,