Virtudes da Cooperação
quinta-feira, junho 08, 2006
A COOPERAÇÃO SUPRIME A PREOCUPAÇÃO DO LUCRO
Esta ideia de lucrar ou ganhar, tão própria do sector que se entrega à produção e à distribuição de géneros ou produtos pela população de um país, é uma espécie de vertigem que atrai os homens no intuito de aumentar seus rendimentos e cabedais, e daí, sua comodidade e seu nível económico, nem sempre — ai de nós! — para os fins mais legítimos. Porque se o fosse, se um homem se preocupasse com o aumento dos seus réditos para os aplicar em obras que interessam ao comum: escolas e institutos de educação ou investigação no sentido de minorar a dor humana, hospitais, asilos, creches… ou para garantir a pessoa contra o acidente no trabalho ou a sua invalidez na velhice, então o lucro ansiosamente procurado poderia ter a sua justificação aos olhos mesmo dos mais inconformistas. Mas quantas vezes ele serve apenas para aumentar o vício de uns e a miséria de outros, a prepotência de muitos e a humilhação sobre tantos. Do lucro exagerado à iniquidade há por vezes um passo muito curto, e há sempre uma injustiça entre o que o recebe e o que é forçado a cedê-lo.
Daí um despeito e um descontentamento, um espírito mesmo de revolta contra a situação que ele cria entre as classes trabalhadoras.
Porque não procurar então remediar a situação, se há um meio eficaz de o fazer?
Sobre esse meio ou instrumento, a cooperativa, diz o dr. Charles Gide:
«O lucro é, nesta nossa organização económica o único estimulante da produção. Quando se pensa na realização duma obra qualquer, arrotear e cultivar terras incultas, instalar novas indústrias, construir casas, abrir um canal ou um caminho de ferro — o único problema que se levanta não é saber se essas empresas respondem ou não a uma necessidade pública, mas sim se elas trarão algum lucro.
Responder a uma necessidade pública é razão para se fazer a obra, dizem os economistas, mas o certo é que nem sempre se faz. A criação de grandes canais de irrigação a partir do Ródano seria muito útil à produção agrícola de todos os departamentos do sudoeste da França: mas como os dividendos dessa exploração são duvidosos ou mesmo muito incertos, a obra não se faz. Seria utilíssimo, nas cidades, construir alojamentos para os operários: mas como as casas para ricos dão muito maior rendimento e este é mais fácil de cobrar, as casas para os pobres não se fazem. E o mesmo com muitas outras empresas que seriam socialmente muito úteis, mas que, por não trazerem aos accionistas o lucro considerado bastante, não se realizam.
Resulta pois daqui que o lucro, em vez de agir como esforço e estimulante da produção, age, muitas vezes ao contrário, à maneira de um travão que o sustém, de uma peça que o impede de funcionar abaixo de um certo limite.
Ora, é da essência da sociedade cooperativa — no que ela difere da sociedade capitalista — preocupar-se ela com as necessidades a satisfazer e não com os lucros a entesourar. E nisto — só nisto, nesta simples diferença de ideais, há toda uma revolução.
Uma sociedade cooperativa de mercearia ou de venda de carnes, por exemplo, tem por fim fornecer aos sócios géneros da melhor qualidade, mas não procura realizar proventos elevados; e, mesmo, se ela fixa um preço de venda superior àquele por que ela compra, não é isso para ela realizar lucros, mas, sim para atingir certos fins diferentes dos de natureza económica, rigorosamente falando: uma sala de leitura ou de reunião, divertimentos para os sócios, jogos autorizados, passeios e excursões, etc., e ainda para produzir directamente todos ou alguns dos géneros que distribui, o que algumas vêm fazendo com notável êxito. Tudo, como se vê, para prover às necessidades individuais dos seus membros e às necessidades colectivas da associação. Uma sociedade cooperativa de construção tem por fim construir as casas necessárias aos seus membros, mas não fazer destas casas um bom emprego de capital. Uma sociedade cooperativa de crédito tem por fim emprestar aos sócios os capitais de que eles possam vir a ter necessidade, mas nunca fazendo-os pagar elevadas taxas de juro.
No dia pois em que na grande sociedade todos os serviços económicos forem organizados cooperativamente, acontecerá o seguinte: tudo se fará com o fim de satisfazer as necessidades dos consumidores e não já principalmente com o de procurar lucros para os produtores. Não é isto justamente que reclamam os partidos que se dizem mais progressivos?
E que diremos de uma sociedade em que a economia de serviço, como é a cooperativa, não dá azo a reclamações do consumidor? Sim, porque num sistema assim organizado o consumidor já sabe que o preço por que lhe são debitados os géneros é um preço que não vem onerado com percentagens ilegítimas, sobretudo se eles não passam pelo intermediário como é o caso do sócio da cooperativa que também produz. Não será isto um meio de evitar atritos, dificuldades, aborrecimentos e azedumes e outras manifestações mais, de sérias complicações sociais que se produzem em volta do capital e do trabalho?
- J. Dias Agudo, "Virtudes da Cooperação"
Esta ideia de lucrar ou ganhar, tão própria do sector que se entrega à produção e à distribuição de géneros ou produtos pela população de um país, é uma espécie de vertigem que atrai os homens no intuito de aumentar seus rendimentos e cabedais, e daí, sua comodidade e seu nível económico, nem sempre — ai de nós! — para os fins mais legítimos. Porque se o fosse, se um homem se preocupasse com o aumento dos seus réditos para os aplicar em obras que interessam ao comum: escolas e institutos de educação ou investigação no sentido de minorar a dor humana, hospitais, asilos, creches… ou para garantir a pessoa contra o acidente no trabalho ou a sua invalidez na velhice, então o lucro ansiosamente procurado poderia ter a sua justificação aos olhos mesmo dos mais inconformistas. Mas quantas vezes ele serve apenas para aumentar o vício de uns e a miséria de outros, a prepotência de muitos e a humilhação sobre tantos. Do lucro exagerado à iniquidade há por vezes um passo muito curto, e há sempre uma injustiça entre o que o recebe e o que é forçado a cedê-lo.
Daí um despeito e um descontentamento, um espírito mesmo de revolta contra a situação que ele cria entre as classes trabalhadoras.
Porque não procurar então remediar a situação, se há um meio eficaz de o fazer?
Sobre esse meio ou instrumento, a cooperativa, diz o dr. Charles Gide:
«O lucro é, nesta nossa organização económica o único estimulante da produção. Quando se pensa na realização duma obra qualquer, arrotear e cultivar terras incultas, instalar novas indústrias, construir casas, abrir um canal ou um caminho de ferro — o único problema que se levanta não é saber se essas empresas respondem ou não a uma necessidade pública, mas sim se elas trarão algum lucro.
Responder a uma necessidade pública é razão para se fazer a obra, dizem os economistas, mas o certo é que nem sempre se faz. A criação de grandes canais de irrigação a partir do Ródano seria muito útil à produção agrícola de todos os departamentos do sudoeste da França: mas como os dividendos dessa exploração são duvidosos ou mesmo muito incertos, a obra não se faz. Seria utilíssimo, nas cidades, construir alojamentos para os operários: mas como as casas para ricos dão muito maior rendimento e este é mais fácil de cobrar, as casas para os pobres não se fazem. E o mesmo com muitas outras empresas que seriam socialmente muito úteis, mas que, por não trazerem aos accionistas o lucro considerado bastante, não se realizam.
Resulta pois daqui que o lucro, em vez de agir como esforço e estimulante da produção, age, muitas vezes ao contrário, à maneira de um travão que o sustém, de uma peça que o impede de funcionar abaixo de um certo limite.
Ora, é da essência da sociedade cooperativa — no que ela difere da sociedade capitalista — preocupar-se ela com as necessidades a satisfazer e não com os lucros a entesourar. E nisto — só nisto, nesta simples diferença de ideais, há toda uma revolução.
Uma sociedade cooperativa de mercearia ou de venda de carnes, por exemplo, tem por fim fornecer aos sócios géneros da melhor qualidade, mas não procura realizar proventos elevados; e, mesmo, se ela fixa um preço de venda superior àquele por que ela compra, não é isso para ela realizar lucros, mas, sim para atingir certos fins diferentes dos de natureza económica, rigorosamente falando: uma sala de leitura ou de reunião, divertimentos para os sócios, jogos autorizados, passeios e excursões, etc., e ainda para produzir directamente todos ou alguns dos géneros que distribui, o que algumas vêm fazendo com notável êxito. Tudo, como se vê, para prover às necessidades individuais dos seus membros e às necessidades colectivas da associação. Uma sociedade cooperativa de construção tem por fim construir as casas necessárias aos seus membros, mas não fazer destas casas um bom emprego de capital. Uma sociedade cooperativa de crédito tem por fim emprestar aos sócios os capitais de que eles possam vir a ter necessidade, mas nunca fazendo-os pagar elevadas taxas de juro.
No dia pois em que na grande sociedade todos os serviços económicos forem organizados cooperativamente, acontecerá o seguinte: tudo se fará com o fim de satisfazer as necessidades dos consumidores e não já principalmente com o de procurar lucros para os produtores. Não é isto justamente que reclamam os partidos que se dizem mais progressivos?
E que diremos de uma sociedade em que a economia de serviço, como é a cooperativa, não dá azo a reclamações do consumidor? Sim, porque num sistema assim organizado o consumidor já sabe que o preço por que lhe são debitados os géneros é um preço que não vem onerado com percentagens ilegítimas, sobretudo se eles não passam pelo intermediário como é o caso do sócio da cooperativa que também produz. Não será isto um meio de evitar atritos, dificuldades, aborrecimentos e azedumes e outras manifestações mais, de sérias complicações sociais que se produzem em volta do capital e do trabalho?
- J. Dias Agudo, "Virtudes da Cooperação"
posted by Nacionalista @ 1:48 da manhã,