Quatro verdades necessárias sobre o problema da imigração
quarta-feira, setembro 27, 2006
Que nem sempre se dizem, e muito menos se escutam, numa altura em que já se ouve falar da concessão do direito de voto aos recém-chegados.
Um espectáculo trágico: os cayucos (1). Um espectáculo sórdido: a demagogia irresponsável do governo. Fontes policiais insistem que Espanha é o paraíso das máfias de tráfico humano. Já ninguém discute seriamente a relação entre imigração e delinquência. Mas os políticos já se preparam para ampliar o direito de voto aos recém-chegados. Quem sofrerá as consequências será o cidadão comum. Deixam-nos dizer quatro verdades?
Uma: a imigração não é “algo bom”. É um fenómeno globalmente negativo. É negativo para quem tem de abandonar forçosamente os seus lares e é negativo para as sociedades incapazes de acolher tanta gente em tão pouco tempo. As consequências da imigração não são boas no plano social, nem no cultural, nem no político, nem tão-pouco, a longo prazo, no plano económico. A situação ideal: que ninguém tivesse de ser obrigado a deixar a sua terra e que os fluxos humanos pudessem regular-se em conformidade com a lei e para benefício geral. Mas é óbvio que não estamos – nem estaremos – na situação ideal.
Duas: apenas sob duas perspectivas se pode considerar a imigração “boa”. Uma, a perspectiva de quem, por razões ideológicas, considera que as identidades históricas europeias se devem dissolver num cenário de mestiçagem cosmopolita; é uma posição muito comum entre a esquerda. A outra, a de quem sustenta, por razões económicas, que uma entrada maciça de mão-de-obra barata é vital para o funcionamento da economia; é uma posição muito comum entre a direita. Assim, a direita capitalista tenta legitimar-se com o dogma da esquerda cosmopolita, e esta, por sua vez, lança combustível (humano) no mercado. Mas ambas as posições encerram um erro: a dissolução das identidades sociais, nacionais e culturais nunca, em lugar algum, criou “cosmópolis mestiças”, tendo pelo contrário provocado uma exacerbação violenta das próprias identidades; quanto à entrada maciça de mão-de-obra barata, é verdade que inicialmente aumenta a riqueza do tecido produtivo, mas imediatamente traduz-se numa exigência de novos serviços sociais que podem levar ao colapso do sistema, como poderá intuir qualquer espanhol que utilize os serviços públicos. Os ganhos em nenhum caso compensam as perdas.
Três: a “integração” não tem porque ser um horizonte desejável. Para começar, é um termo ambíguo. Não é o mesmo uma integração orientada para o cumprimento das leis, com atribuição de direitos sociais e económicos a troco do exercício de um trabalho, ou uma integração interpretada como absorção da população alógena, de tal modo que esta deixa de ser o que é para adquirir uma identidade nova e fictícia. O primeiro modelo é transitório, o segundo aspira à permanência. Parece que em Espanha aspiramos à integração permanente. Mas ninguém tem o direito de exigir a um muçulmano ou a um senegalês que deixem de ser o que são para se tornarem “espanhóis”. A experiência francesa demonstra que, ainda que a integração tenha funcionado numa primeira geração de imigrantes, a velha identidade luta por vir ao de cima quando as coisas se complicam, e então, fá-lo de maneira hostil e histérica, como seria de esperar de um estado de submissão.
Quatro: há que deter a imigração, mas isso não significa inibir-se a resolução do problema. Não podemos tirar o corpo fora. Os europeus têm que assumir o fenómeno da imigração. Antes de mais, devemos reconhecer que temos um dever para com o mundo pobre. Temos esse dever, primeiro por uma questão de justiça: não é justo que nós deitemos fora o que nos sobra e que eles não possam conseguir o que lhes falta. E temos esse dever, além disso, por uma questão de história: como velhas potências coloniais, criadores de nações, devemos resolver um problema que não nos é alheio. Isso implica intensificar e multiplicar os mecanismos de cooperação, mas também apertar o controlo sobre como se administra essa ajuda nos países beneficiários. O imperativo de globalizar a riqueza não será mais do que um chiste tétrico se ao mesmo tempo não se globalizar a justiça social. Esta última tarefa deve ser exigida aos governos dos países de origem: mas se não são capazes de satisfazê-la, será necessário impor-lhes a obrigação de o fazer, como se lhes impôs a submissão às regras do mercado mundial. Alguém, algum dia, deveria dizer algo como isto na União Europeia.
Um espectáculo trágico: os cayucos (1). Um espectáculo sórdido: a demagogia irresponsável do governo. Fontes policiais insistem que Espanha é o paraíso das máfias de tráfico humano. Já ninguém discute seriamente a relação entre imigração e delinquência. Mas os políticos já se preparam para ampliar o direito de voto aos recém-chegados. Quem sofrerá as consequências será o cidadão comum. Deixam-nos dizer quatro verdades?
Uma: a imigração não é “algo bom”. É um fenómeno globalmente negativo. É negativo para quem tem de abandonar forçosamente os seus lares e é negativo para as sociedades incapazes de acolher tanta gente em tão pouco tempo. As consequências da imigração não são boas no plano social, nem no cultural, nem no político, nem tão-pouco, a longo prazo, no plano económico. A situação ideal: que ninguém tivesse de ser obrigado a deixar a sua terra e que os fluxos humanos pudessem regular-se em conformidade com a lei e para benefício geral. Mas é óbvio que não estamos – nem estaremos – na situação ideal.
Duas: apenas sob duas perspectivas se pode considerar a imigração “boa”. Uma, a perspectiva de quem, por razões ideológicas, considera que as identidades históricas europeias se devem dissolver num cenário de mestiçagem cosmopolita; é uma posição muito comum entre a esquerda. A outra, a de quem sustenta, por razões económicas, que uma entrada maciça de mão-de-obra barata é vital para o funcionamento da economia; é uma posição muito comum entre a direita. Assim, a direita capitalista tenta legitimar-se com o dogma da esquerda cosmopolita, e esta, por sua vez, lança combustível (humano) no mercado. Mas ambas as posições encerram um erro: a dissolução das identidades sociais, nacionais e culturais nunca, em lugar algum, criou “cosmópolis mestiças”, tendo pelo contrário provocado uma exacerbação violenta das próprias identidades; quanto à entrada maciça de mão-de-obra barata, é verdade que inicialmente aumenta a riqueza do tecido produtivo, mas imediatamente traduz-se numa exigência de novos serviços sociais que podem levar ao colapso do sistema, como poderá intuir qualquer espanhol que utilize os serviços públicos. Os ganhos em nenhum caso compensam as perdas.
Três: a “integração” não tem porque ser um horizonte desejável. Para começar, é um termo ambíguo. Não é o mesmo uma integração orientada para o cumprimento das leis, com atribuição de direitos sociais e económicos a troco do exercício de um trabalho, ou uma integração interpretada como absorção da população alógena, de tal modo que esta deixa de ser o que é para adquirir uma identidade nova e fictícia. O primeiro modelo é transitório, o segundo aspira à permanência. Parece que em Espanha aspiramos à integração permanente. Mas ninguém tem o direito de exigir a um muçulmano ou a um senegalês que deixem de ser o que são para se tornarem “espanhóis”. A experiência francesa demonstra que, ainda que a integração tenha funcionado numa primeira geração de imigrantes, a velha identidade luta por vir ao de cima quando as coisas se complicam, e então, fá-lo de maneira hostil e histérica, como seria de esperar de um estado de submissão.
Quatro: há que deter a imigração, mas isso não significa inibir-se a resolução do problema. Não podemos tirar o corpo fora. Os europeus têm que assumir o fenómeno da imigração. Antes de mais, devemos reconhecer que temos um dever para com o mundo pobre. Temos esse dever, primeiro por uma questão de justiça: não é justo que nós deitemos fora o que nos sobra e que eles não possam conseguir o que lhes falta. E temos esse dever, além disso, por uma questão de história: como velhas potências coloniais, criadores de nações, devemos resolver um problema que não nos é alheio. Isso implica intensificar e multiplicar os mecanismos de cooperação, mas também apertar o controlo sobre como se administra essa ajuda nos países beneficiários. O imperativo de globalizar a riqueza não será mais do que um chiste tétrico se ao mesmo tempo não se globalizar a justiça social. Esta última tarefa deve ser exigida aos governos dos países de origem: mas se não são capazes de satisfazê-la, será necessário impor-lhes a obrigação de o fazer, como se lhes impôs a submissão às regras do mercado mundial. Alguém, algum dia, deveria dizer algo como isto na União Europeia.
- José Javier Esparza
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(1) Embarcações em que os imigrantes ilegais chegam à costa espanhola.
posted by Nacionalista @ 11:38 da tarde,
2 Comments:
- At 12:46 da manhã, Rodrigo N.P. said...
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Bastante bom, este texto.Preste-se particular atenção ao ponto 3 porque é um ponto muito importante estrategicamente.Continua o excelente trabalho.
- At 10:30 da manhã, said...
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De obligada lectura, sobre el tema de la inmigración, el articulo de Antonio Parra titulado Rebelion en la granja y cayucos, en la pagina web Vistazoalaprensa.com, Firmas invitadas.