Virtudes da Cooperação
domingo, junho 11, 2006
A COOPERAÇÃO REGULA OS PREÇOS E RESOLVE AO ESTADO OS SEUS PROBLEMAS
Nos países de economia liberal ou capitalista, em que o produtor e o comerciante ou distribuidor de géneros ou produtos persegue actividades lucrativas no seio das quais se talham os preços que hão-de exigir-se ao consumidor, a cooperativa exerce uma acção de «controle» ou de vigilância que é altamente benéfica aos que não têm possibilidades de defender-se de injustificados aumentos de preços. Não só numa economia livre: mesmo nas dirigidas — fenómeno que certamente não foi previsto pelos pioneiros de Rochdale — o sistema, graças aos seus méritos intrínsecos tem uma acção positiva em prol do bem comum. Como se verifica nos países de política totalitária, em que o Estado absorveu ou absorve todas as funções de direcção e fiscalização, canalizadas todas elas em determinado sentido, as cooperativas, a não ser talvez na Alemanha, onde o furacão político quase as extinguiu por mais insensato e mais violento, deram sempre provas de constituírem um real valor económico e uma fórmula feliz de defender o interesse do consumidor sem prejudicar, do lado do produtor, os seus legítimos e justos interesses.
Convém expor alguns factos comparativos de que a cooperativa defende sempre, mesmo nas épocas de crise, em que normalmente se encontra mais à solta o instinto de usura e de ganância, o interesse do consumidor, pondo um travão nas ambições desmedidas de produtores e comerciantes. Sim, defende sempre o seu interesse e além disso revela em todas as conjunturas a sua generosidade de proceder, o seu humanismo de instituição que outra coisa não deseja que servir. Servir, só servir. Quando em 1909, uma poderosa organização de fabrico de margarina na Suécia elevou sem razão os preços de venda ao público do seu produto, a União das Cooperativas fez-lhe sentir a ilegitimidade da medida e solicitou dos fabricantes a anulação do aumento. A empresa, escudada em cálculos e previsões feitas, não anuiu ao pedido, motivo por que as cooperativas, num legítimo direito de defesa económica de seus sócios — e de todo o consumidor, como veio depois a verificar-se — fundam uma fábrica de margarina e passam a vendê-la a toda a gente com uma redução de 20 por cento em quilograma. Com as lâmpadas eléctricas deu-se o mesmo na Suécia onde também para elas não havia preço razoável. Aumentos sobre aumentos, oneravam constantemente o produto que chegou a atingir um preço que foi considerado escandaloso.
Resolve a União Cooperativa estudar o assunto; e, munida dos necessários e preciosos elementos, vai para o «trust» a quem procura convencer do exagerado preço por que ele estava vendendo a lâmpada eléctrica. Os dirigentes da organização fabril não deram ouvidos à União: sorriram-se até da ameaça que os seus representantes, dela, esboçaram, ao dizerem que a União Cooperativa poderia também fabricar lâmpadas eléctricas.
Esse estado de espírito durou, porém, pouco: apenas o tempo necessário que precisou a União para encetar os trabalhos de construção da fábrica. Neste momento o «trust» baixa os preços das lâmpadas e torna a baixá-los por duas vezes até ao dia da inauguração do estabelecimento fabril cooperativo que inicia a venda do artigo por um preço inferior em 37% ao do seu impenitente competidor.
Outros casos idênticos se deram com o calçado, os óleos, as farinhas, os flocos, os pneus, etc. Sempre as cooperativas lutaram com êxito para defender um preço julgado justo, o que igualmente aproveitou a sócios e a não sócios de suas instituições.
Fora deste aspecto de reguladora dos preços em que a sua acção foi sempre fecunda, outro há a registar ainda — o de uma honestidade inconcussa na distribuição dos produtos ao consumidor, o que não é para este vantagem pequena. Toda a gente sabe que na cooperativa os pesos e as medidas são certos, quer dizer, o quilograma e o litro não têm menos de 1000 grs., nem de 10 decilitros. Não se tira a ninguém em proveito exclusivo de outrem para avolumar lucros e fazer fortuna. Não. A César o que é de César, moral cristã que a cooperativa defende e segue como programa rígido.
Por ser assim se tem ela imposto a populações e governos que recorrem a ela, para resolverem problemas sérios em épocas difíceis. Podemos dar exemplos.
Quando em 1943 se deu uma escassez de géneros alimentícios na cidade de Colombo, na ilha de Ceilão, houve necessidade de fazer um rateio pela população, encargo que foi cometido à municipalidade. O serviço não agradou, porém, à maioria pois se verificava que a lei não era igual para todos: larga para uns e estreita para outros. Uns recebiam muito e outros recebiam pouco, o que deu azo a que o Governo promovesse na cidade a fundação de cooperativas.
Constituídas elas e feita por elas a distribuição do arroz, do açúcar, etc., nunca mais se verificaram desmandos, nem reclamações. Tudo passou a funcionar sem atritos.
Caso idêntico se deu em França com as importações feitas da Argélia durante a última Guerra Mundial. Pela porta do chamado mercado negro tudo se escoava do comércio particular em busca de maiores lucros. E a clientela passou a não ter que comer ou a pagar os géneros muito mais caros do que devia. O ambicioso não tinha pena dos menos remediados. O que era preciso era ganhar.
Como a situação se complicasse e os distúrbios se anunciassem o Governo encara o problema, estuda-o e deduz que só a cooperativa poderia resolvê-lo. E retira ao comércio privado os «stocks» que costumava receber para venda e entrega-os às cooperativas para fazerem elas a integral distribuição a toda a gente.
Facto igualmente honroso para a cooperação é o que se passou entre nós há uns quinze anos no concelho de Almada por ocasião de uma escassez de azeite que estava sendo vendido ao público em sistema de rateio. Cada família recebia uns tantos decilitros dele por semana, quantidade diminuta, sem dúvida, mas todos fregueses e sócios do comércio e das cooperativas, lá se iam remediando.
Tempos depois de imposto o sistema de distribuição pelas autoridades concelhias o azeite falta nas mercearias. Em nenhuma aparece e o freguês deixa de o receber. Como é, porém, possível isto se as cooperativas continuam distribuindo o azeite aos sócios? — perguntam uns e outros, intrigados e confusos.
A resposta veio breve. O azeite não desapareceu. O azeite mudou de rumo apenas. Ingressou no departamento do tal mercado negro onde passou a render o dobro ou o triplo. E quem precisasse dele que o fosse lá comprar.
Descoberto o delito, aplicou a autoridade o castigo: retira ao comércio privado todo o azeite que costumava receber e entrega-o às cooperativas do concelho para que fizessem elas a distribuição a todo o consumidor. Escusado será dizer que o mercado negro do azeite acabou no concelho de Almada e que a ninguém mais faltou o azeite para temperar o seu «fiel amigo».
Epílogo deste episódio que ficou registado a letras de ouro nos anais das cooperativas: O lucro que elas auferiam, com a distribuição do azeite aos fregueses das lojas de mercearia foi integralmente entregue pelas direcções cooperativas à Misericórdia do concelho de Almada. Não ficaram com ele. Foi auxiliar os doentes e os velhinhos que jaziam nos hospitais em busca de alívio para os seus males.
Nos países de economia liberal ou capitalista, em que o produtor e o comerciante ou distribuidor de géneros ou produtos persegue actividades lucrativas no seio das quais se talham os preços que hão-de exigir-se ao consumidor, a cooperativa exerce uma acção de «controle» ou de vigilância que é altamente benéfica aos que não têm possibilidades de defender-se de injustificados aumentos de preços. Não só numa economia livre: mesmo nas dirigidas — fenómeno que certamente não foi previsto pelos pioneiros de Rochdale — o sistema, graças aos seus méritos intrínsecos tem uma acção positiva em prol do bem comum. Como se verifica nos países de política totalitária, em que o Estado absorveu ou absorve todas as funções de direcção e fiscalização, canalizadas todas elas em determinado sentido, as cooperativas, a não ser talvez na Alemanha, onde o furacão político quase as extinguiu por mais insensato e mais violento, deram sempre provas de constituírem um real valor económico e uma fórmula feliz de defender o interesse do consumidor sem prejudicar, do lado do produtor, os seus legítimos e justos interesses.
Convém expor alguns factos comparativos de que a cooperativa defende sempre, mesmo nas épocas de crise, em que normalmente se encontra mais à solta o instinto de usura e de ganância, o interesse do consumidor, pondo um travão nas ambições desmedidas de produtores e comerciantes. Sim, defende sempre o seu interesse e além disso revela em todas as conjunturas a sua generosidade de proceder, o seu humanismo de instituição que outra coisa não deseja que servir. Servir, só servir. Quando em 1909, uma poderosa organização de fabrico de margarina na Suécia elevou sem razão os preços de venda ao público do seu produto, a União das Cooperativas fez-lhe sentir a ilegitimidade da medida e solicitou dos fabricantes a anulação do aumento. A empresa, escudada em cálculos e previsões feitas, não anuiu ao pedido, motivo por que as cooperativas, num legítimo direito de defesa económica de seus sócios — e de todo o consumidor, como veio depois a verificar-se — fundam uma fábrica de margarina e passam a vendê-la a toda a gente com uma redução de 20 por cento em quilograma. Com as lâmpadas eléctricas deu-se o mesmo na Suécia onde também para elas não havia preço razoável. Aumentos sobre aumentos, oneravam constantemente o produto que chegou a atingir um preço que foi considerado escandaloso.
Resolve a União Cooperativa estudar o assunto; e, munida dos necessários e preciosos elementos, vai para o «trust» a quem procura convencer do exagerado preço por que ele estava vendendo a lâmpada eléctrica. Os dirigentes da organização fabril não deram ouvidos à União: sorriram-se até da ameaça que os seus representantes, dela, esboçaram, ao dizerem que a União Cooperativa poderia também fabricar lâmpadas eléctricas.
Esse estado de espírito durou, porém, pouco: apenas o tempo necessário que precisou a União para encetar os trabalhos de construção da fábrica. Neste momento o «trust» baixa os preços das lâmpadas e torna a baixá-los por duas vezes até ao dia da inauguração do estabelecimento fabril cooperativo que inicia a venda do artigo por um preço inferior em 37% ao do seu impenitente competidor.
Outros casos idênticos se deram com o calçado, os óleos, as farinhas, os flocos, os pneus, etc. Sempre as cooperativas lutaram com êxito para defender um preço julgado justo, o que igualmente aproveitou a sócios e a não sócios de suas instituições.
Fora deste aspecto de reguladora dos preços em que a sua acção foi sempre fecunda, outro há a registar ainda — o de uma honestidade inconcussa na distribuição dos produtos ao consumidor, o que não é para este vantagem pequena. Toda a gente sabe que na cooperativa os pesos e as medidas são certos, quer dizer, o quilograma e o litro não têm menos de 1000 grs., nem de 10 decilitros. Não se tira a ninguém em proveito exclusivo de outrem para avolumar lucros e fazer fortuna. Não. A César o que é de César, moral cristã que a cooperativa defende e segue como programa rígido.
Por ser assim se tem ela imposto a populações e governos que recorrem a ela, para resolverem problemas sérios em épocas difíceis. Podemos dar exemplos.
Quando em 1943 se deu uma escassez de géneros alimentícios na cidade de Colombo, na ilha de Ceilão, houve necessidade de fazer um rateio pela população, encargo que foi cometido à municipalidade. O serviço não agradou, porém, à maioria pois se verificava que a lei não era igual para todos: larga para uns e estreita para outros. Uns recebiam muito e outros recebiam pouco, o que deu azo a que o Governo promovesse na cidade a fundação de cooperativas.
Constituídas elas e feita por elas a distribuição do arroz, do açúcar, etc., nunca mais se verificaram desmandos, nem reclamações. Tudo passou a funcionar sem atritos.
Caso idêntico se deu em França com as importações feitas da Argélia durante a última Guerra Mundial. Pela porta do chamado mercado negro tudo se escoava do comércio particular em busca de maiores lucros. E a clientela passou a não ter que comer ou a pagar os géneros muito mais caros do que devia. O ambicioso não tinha pena dos menos remediados. O que era preciso era ganhar.
Como a situação se complicasse e os distúrbios se anunciassem o Governo encara o problema, estuda-o e deduz que só a cooperativa poderia resolvê-lo. E retira ao comércio privado os «stocks» que costumava receber para venda e entrega-os às cooperativas para fazerem elas a integral distribuição a toda a gente.
Facto igualmente honroso para a cooperação é o que se passou entre nós há uns quinze anos no concelho de Almada por ocasião de uma escassez de azeite que estava sendo vendido ao público em sistema de rateio. Cada família recebia uns tantos decilitros dele por semana, quantidade diminuta, sem dúvida, mas todos fregueses e sócios do comércio e das cooperativas, lá se iam remediando.
Tempos depois de imposto o sistema de distribuição pelas autoridades concelhias o azeite falta nas mercearias. Em nenhuma aparece e o freguês deixa de o receber. Como é, porém, possível isto se as cooperativas continuam distribuindo o azeite aos sócios? — perguntam uns e outros, intrigados e confusos.
A resposta veio breve. O azeite não desapareceu. O azeite mudou de rumo apenas. Ingressou no departamento do tal mercado negro onde passou a render o dobro ou o triplo. E quem precisasse dele que o fosse lá comprar.
Descoberto o delito, aplicou a autoridade o castigo: retira ao comércio privado todo o azeite que costumava receber e entrega-o às cooperativas do concelho para que fizessem elas a distribuição a todo o consumidor. Escusado será dizer que o mercado negro do azeite acabou no concelho de Almada e que a ninguém mais faltou o azeite para temperar o seu «fiel amigo».
Epílogo deste episódio que ficou registado a letras de ouro nos anais das cooperativas: O lucro que elas auferiam, com a distribuição do azeite aos fregueses das lojas de mercearia foi integralmente entregue pelas direcções cooperativas à Misericórdia do concelho de Almada. Não ficaram com ele. Foi auxiliar os doentes e os velhinhos que jaziam nos hospitais em busca de alívio para os seus males.
- J. Dias Agudo, "Virtudes da Cooperação"
posted by Nacionalista @ 12:03 da manhã,